segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

sem pontuação mais uma vez

agora não tem mais desculpa o ano começou é segunda-feira já são nove e meia tem que fazer o post de trabalho lembra que não pode furar nenhum dia constância é a alma do negócio só depende de você faz tudo que você pode no momento não dá vontade de levantar mas tem louça pra lavar que vontade de cancelar a faculdade responde o whatsapp porque você tá se exponde aqui de novo porque se esconder pra que que vontade de sumir mas que vontade de falar ainda sou artista mesmo não me achando mais artista a mistura de cansaço e agitação parece ansiedade mas tá mais pra depressão é só mais um dia faz parte da recuperação do covid será que foi o covid que deixou pra baixo tá corajosa hoje sua medrosa faz o que tem que fazer começou a escrever porque lembrou que ostra feliz não faz pérola mas quem disse que tá bom isso aqui pra que e porque não sem certeza de mais nada no fim das contas é sempre sobre dinheiro (Francis Helena Cozta)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Centro

 dump aleatório, parece confusão mental mesmo não sendo, relembra do que trás para o centro de si, jazz ou bossa nova ou clássica, camisa de linho, sete quilos a menos, a varanda em Paris, um Oxford, a assinatura de flores, folhas verde escuro, casa limpa, cheiro de amaciante, rooftop, hemograma dentro da margem, livro novo, livro velho, nosso café na cama, cheiro de café, um café, um pub, silêncio, nota emitida, unha crescida, um pouco de fome, sutiã na gaveta, alongamento, investimento, confort movie, segurança, liberdade, ambiente monocromático, paleta de inverno, plantas de aptos, decoração, céu azul, soninho, banho, uma dança, maquiagem suave, rede, nuca de um e pescoço do outro, paz, o medo que se vai…

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Nossa Dança

 Eu gosto de ter saudade quando ela vem baseada na noite de ontem. Eu gosto de ter saudade quando tenho certeza que você sente o mesmo no exato momento. Eu gosto de ter saudade quando sei que amanhã já estarei de volta. Eu gosto de ter saudade quando lembro do cheiro da sua pele, do peso do seu corpo leve e ao mesmo tempo forte, do seu toque firme e ao mesmo tempo suave. Força e delicadeza na mistura perfeita. Nosso duo dançado explorando cada compasso da melodia. A coreografia que a gente cria na hora. Hoje a saudade ocupa o espaço que ontem ocupava o seu corpo. Não é sempre, mas hoje gostei de sentir saudade, talvez por saber que repetiremos nossa dança, não a mesma (nunca é a mesma), mas a nossa. Eu sei que te amo, mas é que às vezes, eu te amo ainda mais. (Francis Helena Cozta)

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Hoje


Hoje eu conversei com a minha irmã sobre eu não escrever mais minhas crônicas.

Escrever sempre foi um ato impulsivo meu, mas como escrever se não sou mais impulsiva.

Escrever fazia parte das desilusões no percurso para a conquista do sonho, mas como escrever se não tenho mais aquele sonho.

Escrever era como desnudar a alma, mas como escrever se só quero estar low profile.

Escrever tem a ver com gerar identificação, mas como escrever se prefiro a preservação.

Escrever tinha a ver com resolver algo, mas como escrever se foi exatamente isso que complicou uma situação.

Hoje eu conversei com a minha irmã sobre ela ter gostado das minhas fotos com o cabelo liso preso.

Nunca imaginei.

Eu mudei, então minha escrita vai mudar de alguma forma, só não posso deixar que ela se vá junto com tudo que eu desejei que se fosse.

Como já dizia Oswaldo (Montenegro), “quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor do havia em você…”

Talvez a parte que eu desejo esteja voltando, mas confesso que é estranho escrever em primeira pessoa.

Hoje eu conversei com a minha irmã sobre muitas coisas. (Francis Helena Cozta)


Fotos de Edu Castro

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

“Só”

 Hoje no ensaio aconteceu algo que há muito não me acontecia. Eu me emocionei de verdade e raciocinei com a “cabeça” da personagem. Hoje eu me entreguei como há muito tempo não acontecia pra mim na minha profissão.

A vida, por vezes, nos faz agir de maneira tão técnica, tão certeira, nos cobrando precisão e perfeição, que esquecemos de apenas estar no momento presente e sentir. 

Tudo é sempre tão aos trancos e barrancos (não que agora não esteja sendo) que não lembramos de fazer o que apenas nós mesmos podemos fazer. Aí, acabamos por usar da experiência adquirida com as horas de voo e nos enganamos fazendo o “arroz com feijão” que não tem erro. Ficamos na superficialidade embasada pela técnica, nos enganamos achando que somos “só isso” e diminuímos nossa luz, pois assim nos enquadramos para sobreviver.

Teoricamente, na minha profissão eu “só” preciso fazer de conta que sou outra pessoa e “viver” por um determinado período de tempo um recorte dessa outra vida. Na prática, isso é o que menos é feito, pois são tantos outros fatores com os quais precisamos nos preocupar, que o essencial é deixado para depois e se der é feito.

Hoje, eu não deixei pra depois. Hoje eu vivi. Hoje eu não esqueci de lembrar do que eu sou capaz.

Hoje eu pude “só” fazer o essencial por um pequeno momento, pois eu estava sendo conduzida, dirigida, vista, cuidada.

Esses momentos são raros.

Fazia tempo que não me sentia nervosa para entrar em cena.

Amanhã eu reestreio o espetáculo O Homem Mais Inteligente da História com atualizações no meu roteiro e com nova direção do Ivan Parente.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Ano Novo

 Ano passado eu precisava escrever um texto para uma oficina de atores-autores com tema “o corpo” e nada me vinha a mente. Então fui genuína com o que estava sentindo há um tempo e escrevi. Aqui vai um trechinho: 

“Arg! Cansaço! Essa tem sido uma fala constante na minha vida: -nossa, como que to cansada. Isso até não seria uma questão, não seria um problema, mas eu percebi que eu tenho falado isso assim que eu acordo. O bruxismo diagnosticado talvez seja um indicativo do que eu devo fazer com meu corpo durante a noite, a tensão que eu devo colocar. Durante o dia, às vezes, eu também percebo que eu estou com o ombros tencionados, que eu estou armada. Mas até eu perceber, imagina quanto tempo eu fiquei com eles tensionados até de fato eu ter consciência e falar pra mim mesma: -relaxa um pouco! Chegar no trabalho gera um outro estresse, porque a expectativa que eu coloquei em mim mesma pra apresentar aquilo que eu me programei em casa, gera uma nova tensão. Afinal estamos na era do pitching de elevador. Você só tem 7 segundos para se apresentar, dizer que você é, dizer a que veio e impressionar. Tá, mas pra que impressionar? Se você não fizer isso, ninguém te vê; E quem não é visto não é lembrado! Networking, networking, networking! Eu odeio essa palavra. E não pega a porra do celular pra tentar relaxar, porque tudo o que é exemplo de produtividade “distensionada” brota na sua tela. Acho que eu convivo com essa tensão, essa dor física desde sempre. O que meu corpo quer? Talvez o meu corpo só queira relaxar. Mas eu me esqueço que a minha mente também faz parte do meu corpo.”

Não era cansaço, era esforço! Esforço pela tentativa diária de permanecer sendo aquilo. Eu não precisava descansar, eu precisava mudar. A mudança já estava dando as caras, mas até então não tinha sido percebida. A mudança depois de constatada vem como a despedida de uma dor. É como se uma ferida estivesse sendo curada. A cicatrização gera desconforto sim, mas a dor está indo embora. O ano novo de fora coincidiu com o ano novo de dentro. (Francis Helena Cozta)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Precipício

É como estar num precipício com uma parede nas costas. Quando se decide pela mudança de algo, enquanto ela não ocorre, parece que o ar vai ficando escasso e respirar se torna cada vez mais difícil. A cobrança soa como marteladas insuportáveis e persistentes. A decisão de mudar era justamente para que esse barulho ensurdecedor cessasse. Lembra que foi uma escolha? Já está decidido que se quer uma nova vida, mas enquanto ela ainda não chega, é preciso lembrar que se tem esta aqui. A antiga vida ainda está aqui, consistente e sob controle. Olhar para o precipício gera desespero, mas é preciso lembrar que existe uma porta na parede das costas, e ainda dá pra entrar por ela quantas vezes forem preciso. (Francis Helena Cozta)