quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Invisível

Ao contrário do que talvez possa parecer, o deslumbramento e a “entidade artista-famoso” são dispensáveis para o real ofício do ator. Para contar uma história a partir da perspectiva da vida de outrem, a vaidade mais atrapalha do que ajuda. Tudo o que é feito em cena deve ser a favor da obra e não baseado em escolhas pessoais. As escolhas inteligentes são baseadas no que contribui para contar aquela história e não para suprir carências descontadas em cena. O desafio da profissão é despir-se de tudo que sou para adentrar num novo universo, e isso requer humildade. Para alcançar um mínimo de coerência cênica, é necessário concentração no aqui e agora. Abster-se das distrações é fundamental mesmo que elas venham como algo extremamente tentador, disfarçado de oportunidade ou de elogios vãos que parecem atalhos para algum tipo de status. O foco deve estar no jogo e não no que está em jogo. Para estar em cena, existe um trabalho pregresso totalmente solitário, sendo doloroso e prazeroso ao mesmo tempo. É preciso ser levado a sério, pois a personagem só é vista quando o ator desaparece. Que eu seja cada vez mais invisível. (Francis Helena Cozta)