quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Flores rosé

Apressa-te tempo, pois tenho ganas de colocar as flores cor rosé na janela. Não sei o nome delas, mas posso sentir o perfume. As luzes penduradas naquela vista do apartamento de Paris. O respirar na varanda do hotel de Veneza. Aquela viela inesquecível de Barcelona. Apressa-te tempo, pois necessito provar os mais diferentes sabores. As lembranças do futuro assolam a alma inquieta que busca cada vez mais. O antigos recordes já não suprem o frisson de um coração apaixonado pela busca e envaidecido pelo novo saber. Apressa-te tempo para que eu me encontre com aquela versão tão ansiada e fielmente coerente consigo. Apressa-te para que eu me surpreenda com o novo eu que está lá, mas que de alguma forma já está aqui. Apressa-te, mas apressa-te com calma, pois o processo de lapidação está delicioso, mesmo que por vezes doloroso. Apressa-te e pare quantas vezes forem necessárias, só não esqueça de seguir. Por aqui prossigo, sem pressa e sem pausa na mais genuína vontade já sentida e com a total consciência de que ainda nada sei. (Francis Helena Cozta)

sábado, 15 de agosto de 2020

Desenrolado

 Aprendemos que as coisas da vida nos chegam através de sacrifícios e que tudo de alguma forma nos é custoso para conseguir o que queremos. Tenho que concordar, pois a cada decisão tomada prós e contras sempre estão presentes e é um conceito quase que como “perder para ganhar”. 

Mas algumas vezes a vida nos surpreende e algo que pensávamos ser penoso nos aparece de forma desenrolada. Pode ser que seja uma bonificação por todo o sacrifício antes feito ou talvez seja apenas porque tivemos muita coragem e o “universo conspirou” a favor. Aparentemente não importa, mas quando analisamos profundamente percebemos que somos responsáveis pelas circunstâncias que antes julgávamos ser impostas. Sempre há escolha. Sempre existe a opção de ter coragem. Vale lembrar que coragem não é ausência de medo, mas o enfrentamento do mesmo com “sapiência e prudência” (ah, Aristóteles). Sim, alguns momentos podem ser desenrolados e surpreendentes. Acho que além da coragem mais dois ingredientes são necessários nessa poção: a decisão e a ação. Meus olhos se enchem de lágrimas e me dou conta que a partir de amanhã esse será o único motivo para que eu veja o mundo embaçado. Obrigada vida! (Francis Helena Cozta)

Jornada

A vontade que me invade de por um momento me sentir a Tracy Whitney de “Se Houver Amanhã” do Sidney Sheldon só para estar no Museu do Prado.
Sim, eu sei, me parece um tanto quanto juvenil, mas não se atente especificamente ao autor e sua obra, mas sim à vontade.
Minha pequenez está um tanto quanto gigante ultimamente. Parece uma dicotomia, mas talvez não seja.
Mesmo na vasta ignorância minha mente pede por mais e meu coração pulsa à medida que cada novo pensamento chega.
Me sinto viva, pois há tanta vida a ser vivida. Entendo a necessidade da omissão e da quietude do silêncio para dar vazão ao aprendiz latente em mim. Parece um tanto quanto desafiador para uma personalidade quase que sempre opinativa e firmemente presente, mas no momento o dificultoso seria obrigar-se a imposição do estar. O agora pede pelo ficar, e por que não fincar (mesmo a gana sendo de voar). Ixi, mais uma dualidade que ainda assim faz sentido.
O mundo está cada vez maior. A ansiedade se mistura com a paixão.
No documentário da Laís Bodansky sobre “O Ator Intvisível”, tanto Cássia (Kis) quanto Lee (Taylor) afirmam que para o espetáculo acontecer, é preciso o ator desaparecer.
Talvez esteja aí a questão que me assola tão lindamente agora. Desapareço para que as belezas do mundo se sobressaiam. Silencio para escutar os mestres que me conduzem. As mais belas obras me vêm à mente. Ok, confesso que só por um momento seria Sabine (com seu chapéu) de “A Insustentável Leveza do Ser” do Milan Kundera, mas pensando bem, minha vontade está em continuar sendo a mim mesma para poder escrever uma história que ainda não foi contada e assim me surpreender a cada novo conhecimento adquirido. Jornada. Está só começando. (Francis Helena Cozta)

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Do que eu sei

O que eu sei não me basta
O conhecimento é infinito.
A minha sede por desbravar a antropologia humana e suas flutuações e contingências só aumenta.
Não há fraqueza ou até mesmo arrogância na busca pela própria essência e pelo que de fato lhe faz sentido, mas o oposto. Desgarrar-se do aparentemente óbvio e por vezes inquestionável requer coragem. Entende-se profundamente que o apaixonante está no caminho, pé ante pé, no processo do aprendizado. Parafraseando Tenessee Williams em sua Catástrofe do Sucesso, “o interesse obsessivo pelas vicissitudes humanas, além de uma certa dose de compaixão e de convicção moral, que pela primeira vez tornou a experiência de viver algo que deve ser traduzido em pigmento, música, movimentos corpóreos ou poesia ou prosa ou qualquer coisa dinâmica e expressiva é que lhe será útil se é que você tem objetivos sérios”, descubro a certeza das escolhas.
O conhecimento aumenta as possibilidades, pois o universo é do tamanho do que eu sei. (Francis Helena Cozta)

Ofício (e seus ossos)

Só entende quem faz.
Só faz quem se dispõe.
Só se dispõe quem se adapta.
Só se adapta quem foca.
Só foca quem tem objetivo.
Só tem objetivo quem tem vontade.
Só tem vontade quem ama.
Só ama quem entende.
Só entende e ama quem não se distrai. (Francis Helena Cozta)