terça-feira, 29 de dezembro de 2020

R e T r O s P e C t I v A

R e T r O s P e C t I v A

Quando parei para olhar para esse ano me dei conta de que tivemos uma vida nos dois primeiros meses e meio do ano e tivemos tantas outras (bem loucas) nos meses seguintes. Esse ano prometia muitas coisas e vieram tantas outras tão tortas e tão alinhadas ao mesmo tempo. O ano começou extremamente fitness e terminou sedentário. Teve passeio com a família e encontros com a mamãe. Teve viagem legal, mas estranha. Teve um baita troço doido que nos trancou em casa e por isso acho que nunca falei tanto com minha mãe e minha irmã, e filosofamos tanto (lógico que por chamadas de vídeo, quase todos os dias). Teve dente quebrado, doação de sangue, cirurgia nos olhos, peregrinação por todas as especialidades médicas, bichinho internado, tudo no meio de uma pandemia. Mas também teve libertação, ruptura, firmeza e coragem. Quando olhamos o álbum de fotos de alguém, não estamos assistindo o filme daquela vida. Fotografias são pequenos recortes de momentos com subtextos muito mais profundos do que podemos supor. Aliás, suposição e especulação são palavras que ficarão em 2020, pois esse ano nos mostrou de tantas formas que por mais que achemos que sim, de nada sabemos. Quantas lições ainda a serem digeridas esse ano mestre nos trouxe. Assenta-te, encontra-te, pondera e liberta. (Francis Helena Cozta)

Falta

O ano em que meu cérebro trabalhou absurdamente, mas meu corpo parou. Sinto falta da sala de dança, da sala de ensaio, do palco do teatro. Meu corpo pede por expansão. Nunca em toda a minha vida fiquei tanto tempo sem esse contato com o teatro e com a dança, e consequentemente com meu corpo. Além de ser meu instrumento de trabalho, ele necessita de expansão, de contato, de fluidez. Hoje quando vi esse corredor de luzes, pensei: -“vou rapidinho ali fazer um arabesque.” A calça jeans, o tênis, a máscara atrapalharam meu corpo enrijecido, pois também sinto falta da roupa de aquecimento, da malha de dança, do surrado trapo de ensaio. (Francis Helena Cozta)

Aforismos de quinta (em qualquer sentido)

 Aforismos de quinta (em qualquer sentido).

• Não é porque alguém se diz indignado com algo, que esse alguém não aja igual a própria indignação.
• A vantagem de culpar o vento pela desordem é a compaixão recebida de quem também se esqueceu de fechar a janela.
• Como a maioria pode ter razão se a minoria é quem tem conhecimento.
• Especulação é curiosidade fantasiada de opinião.
• Muitas vezes em nome do altruísmo se cometem as maiores barbáries.
• A problemática não está no que é feito e sim por quem foi feito. E assim nasce a hipocrisia.
• Do que eu não sei, apenas não sei.
(Francis Helena Cozta)

Aforismos Dominicais

 Aforismos dominicais:

• O preço da eterna boa reputação é a prisão da coerência.
• Para o especulador curioso a indiferença gera mais ódio do que o ódio propriamente dito.
• O óbvio esperado quase sempre beira o vulgar.
• A impotência é uma carro ligado no ponto morto.
• A cobrança pela empatia nunca é empática.
• A imposição por igualdade soa como tirania e não como liberdade.
• A comparação é uma blasfêmia. Como comparar Da Vinci com Michelângelo se cada um é único?
• Kundera (quase) sempre tem razão (e Hemmingway também).
• Só é possível ser livre aquele quem se permite ser incoerente.
• O que é negligenciado, perece. O que é cultivado, cresce.
• O impensável nem sempre é improvável. Disney e Dalí criaram “Destino” juntos.
(Francis Helena Cozta)

Escrevo-te

Escrevo-te na divagação do “não sei o que”, pois assim me permito hoje. Assim escreverei por três vezes seguidas. Já disse que é porque me permito hoje? Hoje decido ser diferente e não sufocar a vontade da expressão, mas fazê-la a minha maneira. Quem vê de fora deve pensar: -“Até parece que ali existe algum sufocar ou algo do tipo.” Pois é, isso não combina com o pássaro que abriu a própria gaiola. Algumas vezes penso assim e também não entendo. Na verdade entendo sim. Ainda há um certo nevoeiro que permeia as idas e vindas dos pensamentos a despeito das tais escolhas. Todavia não há total clareza que é possível só ser e não mais ter de escolher. Só sei que hoje se está assim e essas fotos me remetem a frase “para reger a orquestra é preciso dar as costas à plateia”, mesmo que a música tocada seja para que ela aprecie. (Francis Helena Cozta)

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Olheira

Ontem eu lembrei de uma vez que quiseram me convencer a “pintar” minha olheira através de uma técnica nova, tipo uma maquiagem definitiva que tinha saído na época. Minha primeira reação foi dizer: -“Eu sou atriz, preciso da minha olheira.” Atores são telas em branco esperando para serem pintadas das mais diversas cores que surgirem. Nosso corpo está a favor do nosso ofício de uma maneira muito linda e respeitosa. Eu preciso e quero ser de verdade, mesmo que o momento nos apresente tantas ofertas de como ter a estética perfeita. Não sou contra arrumarmos o que nos incomoda, pelo contrário, só não quero que nada (físico ou até mesmo pessoal) se sobressaia além das personagens que me chegam. Chedwick Boseman disse: -“Minha vida não é da conta de ninguém. Quando você fala sobre coisas pessoais, você acaba se tornando uma espécie de celebridade. Sua vida pessoal acaba interferindo na vida profissional. Eu sou um ator e você me conhece pelos personagens que eu interpreto. Você tem uma impressão sobre quem eu sou, mas não sabe realmente tudo.”

Promova o que te encanta ao invés de atacar o que te desagrada

As palavras representatividade, empatia, minoria, empoderamento e até liberdade começaram a fazer parte do nosso cotidiano. Mas será que realmente estamos prontos para defender tais pautas? Ayn Rand defendia que a menor minoria do mundo é o indivíduo. Partindo desse princípio, não acredito que a mudança que queremos seja coletiva, mas sim individual. Afinal um conjunto de indivíduos é que forma um coletivo. E mesmo que alguém faça parte de um grupo, ainda assim ele pode ter pensamentos diferentes de outros membros desse grupo ao qual ele está inserido. Se lutamos tanto por diversidade, por que nos indignamos quando alguém pensa ou age diferente do que imaginamos? Não é para isso que lutamos? Para que tenhamos a liberdade de sermos diferentes? Então por que ainda choca o fato de alguém ter atitudes diferentes das quais teríamos? “Ah, mas eu teria agido assim... “Ah, mas que absurdo, se eu fosse tal pessoa agiria assim.” Disse bem. VOCÊ agiria assim. O outro fez diferente, pois é OUTRO. Só estaremos prontos para defender a liberdade, a partir do momento que entendermos que o outro também é livre. Você pode até discordar e julgar a atitude de alguém que lhe é contrária ao que você imaginou que seria. Mas bradar seu ódio aos sete ventos, se achar digno de dizer do que aquela pessoa é merecedora e apontar o dedo como se você estivesse a par de absolutamente tudo o que diz respeito a ela, não me parece uma atitude de quem é de fato livre. Para eu ser livre eu liberto o outro, afinal (mais uma vez) o outro é OUTRO. E por mais que você conheça fotos da vida de alguém, o filme daquela vida você não assistiu. Para lutarmos por liberdade, talvez seja necessário lutarmos primeiro por individualidade, identidade e autonomia. Só assim, talvez, possamos compreender que somos diferentes, únicos e livres. Afinal estaremos olhando para nós mesmos, nos autoconhecendo e tentando aprimorar o que julgamos ter de falho. Páre de perder tempo expondo sua reclamação sobre o outro e comece a usar esse tempo para a auto percepção. Só assim entenderemos sobre empatia e respeito. Promova o que te encanta ao invés de atacar o que te desagrada. (Francis Helena Cozta)

P(á)ra o mundo

Ousadia não é rebeldia.
Coragem não é pira.
Mudança não é ingratidão.
Isenção não é desconsideração.
Silêncio não é desrespeito.
Proteção não é agressão.
Individualidade não é egoísmo.
Escolha não é obrigação.
Respeito não é decepção.
Admiração não é curiosidade.
Preocupação não é fofoca.
Amor não é cobrança.
Idolatria não é especulação.
Sabedoria não é suposição.
Informação não é conhecimento.
Discrição não é arrogância.
Liberdade não é invasão.
(Francis Helena Cozta)

O mundo está repleto de crianças que não cresceram

O mundo está repleto de crianças que não cresceram. Você quando criança admiraria o adulto que você é hoje? Acharia coerente e madura a maneira como você pensa e reage diante de pequenas coisas até acontecimentos mais complexos? Constataria que suas escolhas e atitudes são baseadas no discernimento que só chega com a maturidade? Você teria confiança e segurança nesse adulto que você se tornou? Perceberia que esse adulto dá atenção ao que tem relevante importância e não a trivialidades imaturas? Perceberia que esse adulto disserta sobre temas inteligentes e não sobre frivolidades? Aquele adulto que você olhava e pensava “como pode ser assim tão sábio, desenvolto e lidar tão bem com as adversidades? Ah, claro, ele é adulto!”Não saber lidar com a sua frustração pelo simples fato do outro não agir da maneira com que você idealizou na sua própria cabeça e espernear por causa disso é um tanto quanto relevante para refletir sobre quem somos agora. Isso vale para algo que vamos assistir, já chegamos com uma pré-concepção e se não é como queríamos, achamos que não presta. Para uma opinião diferente da nossa, para um outro ponto de vista, para o outro... Afinal o outro é outro, se não, não seria outro.Auto percepção é fundamental. Está faltando adulto no mundo. (Francis Helena Cozta)

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Amarelo


 Como pode uma imagem ser fria e quente ao mesmo tempo? E uma vida? Só sei que de morno nada tem. Tanta gente querendo viver, tanta gente tentando sobreviver e tanta gente querendo desaparecer.

Tá difícil pra mim, tá difícil pra você, nas notícias vemos “homicídio”, mas a palavra que dá mesmo medo de dizer é “suicídio”.

Se o setembro é amarelo, em que canto o elo se escondeu? Aonde amar é desafio, talvez realmente estejamos por um fio.

Amar elo, amar Elo, amarelo... Da cor do Sol que anda tão escondido. Como então passar ileso por outubro para encontrar o “doce novembro”?

Em tempos (sombrios) de vislumbres de crescimento econômico, branding (im)pessoal, influenciadores, seguidores, vulgo admiradores que te ditam como ser sob a expectativa criada pelos mesmos, gestão de marcas, estudo de imagem e um milhão de estrategistas e especialistas enfiando nossa goela abaixo como ser, agir, se posicionar e até pensar, onde se encaixa setembro e seu esplendoroso amarelar?

É preciso coragem para ter identidade, e nesse caso pedir ajuda a quem se tem certeza que é possível confiar. Saiba, tudo isso vai passar! 

É que às vezes eu também me perco e não sei bem como te ajudar. Talvez porque eu não seja um estrategista, sou apenas um mero artista. (Francis Helena Cozta)

Imagem: Willrad von Doomenstein


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Flores rosé

Apressa-te tempo, pois tenho ganas de colocar as flores cor rosé na janela. Não sei o nome delas, mas posso sentir o perfume. As luzes penduradas naquela vista do apartamento de Paris. O respirar na varanda do hotel de Veneza. Aquela viela inesquecível de Barcelona. Apressa-te tempo, pois necessito provar os mais diferentes sabores. As lembranças do futuro assolam a alma inquieta que busca cada vez mais. O antigos recordes já não suprem o frisson de um coração apaixonado pela busca e envaidecido pelo novo saber. Apressa-te tempo para que eu me encontre com aquela versão tão ansiada e fielmente coerente consigo. Apressa-te para que eu me surpreenda com o novo eu que está lá, mas que de alguma forma já está aqui. Apressa-te, mas apressa-te com calma, pois o processo de lapidação está delicioso, mesmo que por vezes doloroso. Apressa-te e pare quantas vezes forem necessárias, só não esqueça de seguir. Por aqui prossigo, sem pressa e sem pausa na mais genuína vontade já sentida e com a total consciência de que ainda nada sei. (Francis Helena Cozta)

sábado, 15 de agosto de 2020

Desenrolado

 Aprendemos que as coisas da vida nos chegam através de sacrifícios e que tudo de alguma forma nos é custoso para conseguir o que queremos. Tenho que concordar, pois a cada decisão tomada prós e contras sempre estão presentes e é um conceito quase que como “perder para ganhar”. 

Mas algumas vezes a vida nos surpreende e algo que pensávamos ser penoso nos aparece de forma desenrolada. Pode ser que seja uma bonificação por todo o sacrifício antes feito ou talvez seja apenas porque tivemos muita coragem e o “universo conspirou” a favor. Aparentemente não importa, mas quando analisamos profundamente percebemos que somos responsáveis pelas circunstâncias que antes julgávamos ser impostas. Sempre há escolha. Sempre existe a opção de ter coragem. Vale lembrar que coragem não é ausência de medo, mas o enfrentamento do mesmo com “sapiência e prudência” (ah, Aristóteles). Sim, alguns momentos podem ser desenrolados e surpreendentes. Acho que além da coragem mais dois ingredientes são necessários nessa poção: a decisão e a ação. Meus olhos se enchem de lágrimas e me dou conta que a partir de amanhã esse será o único motivo para que eu veja o mundo embaçado. Obrigada vida! (Francis Helena Cozta)

Jornada

A vontade que me invade de por um momento me sentir a Tracy Whitney de “Se Houver Amanhã” do Sidney Sheldon só para estar no Museu do Prado.
Sim, eu sei, me parece um tanto quanto juvenil, mas não se atente especificamente ao autor e sua obra, mas sim à vontade.
Minha pequenez está um tanto quanto gigante ultimamente. Parece uma dicotomia, mas talvez não seja.
Mesmo na vasta ignorância minha mente pede por mais e meu coração pulsa à medida que cada novo pensamento chega.
Me sinto viva, pois há tanta vida a ser vivida. Entendo a necessidade da omissão e da quietude do silêncio para dar vazão ao aprendiz latente em mim. Parece um tanto quanto desafiador para uma personalidade quase que sempre opinativa e firmemente presente, mas no momento o dificultoso seria obrigar-se a imposição do estar. O agora pede pelo ficar, e por que não fincar (mesmo a gana sendo de voar). Ixi, mais uma dualidade que ainda assim faz sentido.
O mundo está cada vez maior. A ansiedade se mistura com a paixão.
No documentário da Laís Bodansky sobre “O Ator Intvisível”, tanto Cássia (Kis) quanto Lee (Taylor) afirmam que para o espetáculo acontecer, é preciso o ator desaparecer.
Talvez esteja aí a questão que me assola tão lindamente agora. Desapareço para que as belezas do mundo se sobressaiam. Silencio para escutar os mestres que me conduzem. As mais belas obras me vêm à mente. Ok, confesso que só por um momento seria Sabine (com seu chapéu) de “A Insustentável Leveza do Ser” do Milan Kundera, mas pensando bem, minha vontade está em continuar sendo a mim mesma para poder escrever uma história que ainda não foi contada e assim me surpreender a cada novo conhecimento adquirido. Jornada. Está só começando. (Francis Helena Cozta)

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Do que eu sei

O que eu sei não me basta
O conhecimento é infinito.
A minha sede por desbravar a antropologia humana e suas flutuações e contingências só aumenta.
Não há fraqueza ou até mesmo arrogância na busca pela própria essência e pelo que de fato lhe faz sentido, mas o oposto. Desgarrar-se do aparentemente óbvio e por vezes inquestionável requer coragem. Entende-se profundamente que o apaixonante está no caminho, pé ante pé, no processo do aprendizado. Parafraseando Tenessee Williams em sua Catástrofe do Sucesso, “o interesse obsessivo pelas vicissitudes humanas, além de uma certa dose de compaixão e de convicção moral, que pela primeira vez tornou a experiência de viver algo que deve ser traduzido em pigmento, música, movimentos corpóreos ou poesia ou prosa ou qualquer coisa dinâmica e expressiva é que lhe será útil se é que você tem objetivos sérios”, descubro a certeza das escolhas.
O conhecimento aumenta as possibilidades, pois o universo é do tamanho do que eu sei. (Francis Helena Cozta)

Ofício (e seus ossos)

Só entende quem faz.
Só faz quem se dispõe.
Só se dispõe quem se adapta.
Só se adapta quem foca.
Só foca quem tem objetivo.
Só tem objetivo quem tem vontade.
Só tem vontade quem ama.
Só ama quem entende.
Só entende e ama quem não se distrai. (Francis Helena Cozta)

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Mesa de Jantar


Se o universo é do tamanho do próprio conhecimento, como escutar os ruídos que desviam do deleitoso caminho em busca da sabedoria. A privação da expansão do intelecto e o acomodar-se com o previsto soa como uma agressão, por assim dizer.
A mesa está posta para o jantar com os ilustres convidados eleitos pela mente, mas principalmente pela alma.
Me sento muda.
Jamais os afrontaria com qualquer opinião vulgar.
Escuto.
Kundera explica-me “A Insustentável Leveza do Ser” e Michelângelo a importância de eliminar tudo o que não é “Davi”.
Me emociono.
Mergulho em meus próprios pensamentos.
Escuto algo. 
Volto minha atenção ao jantar e percebo que é Pachelbel dedilhando seu “Canon” na mesa.
Me perco e me acho nos aforismos trocados por Marco Aurélio e Sêneca, enquanto Rand e Aristóteles dissertam sobre a razão e o indivíduo. 
Me emociono mais uma vez.
E percebo como sou pequena.
Não me vitimizo, mas me alegro por me permitir sentar à mesa.
Por ora só posso agradecer pelo jantar e desculpar-me por ser breve e não citar todos aqui presentes.
Obrigada pela noite.
Ah, espere! Não te apresses Hamingway, pois ainda preciso descobrir se realmente “Paris é uma Festa”. (Francis Helena Cozta)
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Música: Cânon in D de Pachelbel
Imagem por Amy Wharton via Pinterest

domingo, 7 de junho de 2020

Campainha

Não carrega mais a mochila nas costas com o laptop (nem o peso de ser quem é), não tem mais aquela camiseta, nem faz mais aquele penteado (pra que penteado?). Jamais tocaria a campainha daquele jeito hoje. Ok, ainda tem sonhos enormes, mas estão diferentes. As obrigações autoimpostas se tornam gostos pelo conhecimento que só é aprendido durante o percurso. A vontade de conseguir se transforma em vontade aprender, porque hoje está bem mais interessante que ontem. A ansiedade se desfaz, pois percebe que só o tempo lhe permite chegar mais perto dos próprios valores. Não tem mais a referência do ponto de chegada, pois sabe que pode ir além. (Francis Helena Cozta)

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Tudo diferente

Não é por causa de um certo vírus. Bom, talvez seja. Mas essa não é a questão. A causa em si é o tempo e a culpa é dos livros. O tempo e os livros. O que me falta está nos livros que não li. O que não sei está no tempo que não me dei. A expansão da mente ao aprender o que nem se poderia supor que existia nos conecta com valores extremamente profundos e o (re)conhecimento de quem se é de verdade se torna inevitável, mesmo que ainda esteja confuso por se tratar de um processo por vezes subjetivo, mesmo que consciente. O barulho do mundo, as (auto)imposições ditadas pelo meio, o conveniente aceito pelo óbvio vulgarmente estabelecimento, já não têm mais sentido. Antigas discussões passam a ser rasas e novos questionamentos vêm à lume. Está tudo diferente. (Francis Helena Cozta) 

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Quinquagésimo Terceiro Dia


a casa quase sempre impecável a cabeça quase nunca faz conta começa o livro lava roupa faz a lição do curso on line não reclama imagina quem mora com um monte de gente imagina quem mora sozinho imagina quem tem filho imagina quem não pode transar imagina quem mora com quem não gosta imagina quem nem tem casa pra morar imagina quem tá no hospital pára de imaginar se cobra de fazer caridade faz conta rói a unha quebra o dente sim quebra o dente corre pra arrumar o dente tem self tape pra fazer não rói mais a unha porque não pode mais gastar com o dente faz conta termina o livro vê a professora lucia helena a lara o karnal o pondé o wendel o bruno o thiago o padre fabio corre pra fazer a self tape não vai dar tempo ufa deu tempo manda a foto atualizada começa o outro livro tem mais lição do curso pra fazer faz conta ixi acha que engordou faz jejum que bom fazer jejum quer vinho faz conta melhor não comprar o vinho quase termina o novo livro que livro incrível manobra o carro do vizinho pra poder ir comprar uma tampa nova pra privada nossa que saudade de dirigir que estranho que saudade de dirigir para de sentir saudade disso que absurdo imagina quem não tem carro imagina quem não tem tampa na privada imagina quem não tem privada se cobra de fazer caridade faz conta não pode mais roer a unha compra o vinho merda gasta com o vinho faz conta faz jejum grava self tape ixi o cabelo tá sem corte atualiza a foto atualizada faz lição do curso acha que já deveria ter terminado o segundo livro ainda tem mais três na fila faz conta não pode roer a unha faz conta não pode roer a unha 
sem pontuação se lê como um mantra que acalma ou como a narração da ansiedade (Texto: Francis Helena Cozta)

terça-feira, 31 de março de 2020

Pare! Só pare!

Pare e entenda o que está acontecendo no mundo e na sua vida! Abra os olhos para o momento REAL que estamos vivendo. Se coloque como o adulto que você é e com maturidade tome as rédeas da sua vida AGORA. O momento pede que você seja racional para tomar as melhores decisões a cada momento. Uma “pequena” decisão mal tomada agora, acarretará prejuízo de pequeno a longo prazo em vários âmbitos da sua vida. Não querer assumir para si mesmo que a vida é séria, só te trará sofrimento mais para frente. Prevenir sempre será melhor que remediar. Pare de fugir da realidade. “Fugir” só te trará mais sofrimento! Aceite! Com calma, serenidade e maturidade olhe para os aspectos da sua vida que precisam de ajustes e faça esses ajustes com o que você tem agora. Se esforce! Pesquise, se informe e busque informações com quem realmente entende da área que você precisa de ajuda nesse momento. Se inspire em pessoas que tem o pé no chão e que não fogem da realidade da vida agora. Saiba ser seletivo com o que o outro diz e fala. Não é porque você admira determinada pessoa, que TUDO o que ela diz ou faz está correto. Não tampe os olhos com a venda da ignorância querendo minimizar o que é real. Busque a verdade, e sinto dizer que a verdade no dia de hoje é cruel. Aceite! Não se vitimize nem ache que a vida do outro está mais fácil. Você não conhece pra valer a vida do outro. Cada um tem um fardo para carregar que talvez você nem imagine o quão grande seja. Não julgue! Pare de dar desculpas sobre os seus fracassos colocando a culpa em outrem. Não é hora de se comparar nem de competir.  Se adapte a sua nova realidade. Seja flexível. Quando você assume o seu papel responsável no mundo, você fica mais forte e sábio. A hora é agora! Pare de empurrar a sujeira pra baixo do tapete! Limpe a sujeira de uma vez por todas. Faça suas escolhas com sabedoria, para quando o momento de calmaria chegar, você olhe para trás e tenha orgulho de si mesmo! (Francis Helena Cozta)

Espera

Até então estava tudo bem. Entendi racionalmente que teria que ficar em casa, pois todos os meus trabalhos foram adiados (sem trabalhar, não recebo) e moro com uma pessoa do grupo de risco (que também não está trabalhando e recebendo), ou seja, sair de casa não é uma opção para mim. Entendi minha condição e não me vitimizei em momento algum. Estamos todos no mesmo barco, cada um com seu fardo a ser carregado nesse momento. Mas hoje resolvi arrumar minha bolsa, tirei o desodorante que sempre levo comigo, um item ou outro de maquiagem, a carteira, minhas cópias do meu registro de atriz que uso nos testes, e... a agenda com o marca texto parado na sexta-feira passada. Me dei conta que não usarei a bolsa de novo tão cedo, então guardei-a vazia no armário. A bolsa esvaziava enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. Percebi que a vida de algum modo parou. É estranho não pegar o telefone toda hora pra ver se chegou mensagem da agência perguntando sobre um teste, não organizar tudo para a correria maluca do dia seguinte: o material do curso, a roupa da academia, o lanche, a garrafa de água, as coisas do trabalho daquele dia. Apertaram um pause nos sonhos que estavam em andamento para serem realizados. Sonhos construídos degrau por degrau com tanto esforço. A impressão é que saí da minha vida pra viver a vida de outra pessoa que não sou eu. Minha mente entendeu o que está acontecendo, mas como explicar pro meu coração que aquilo ali que a gente tanto planejava e queria estava pertinho; e que agora teremos que esperar. O artista está muito acostumado com a espera. Ele espera aparecer o teste, espera a resposta do teste, espera muito na gravação ou no ensaio, espera o trabalho ir pro ar, espera que o teatro tenha público, espera o cachê quase sempre atrasado. Mas confesso que essa espera de agora está diferente. Por hora caro artista, diga pro seu coração que seus sonhos estão adiados e que mais uma vez, você terá que se acostumar com ela, mesmo já sendo especialista nessa arte... a arte da espera. (Francis Helena Cozta)

Crise

CRISE. ⊙ ETIM lat. crĭsis,is 'momento de mudança súbita, crise (med)', do gr. krísis,eōs 'ação ou faculdade de distinguir, decisão, momento difícil'.
Momentos de crise nos fazem ter a dimensão do quanto e em quais pontos específicos somos falhos.
Não ter a disciplina de poupar dinheiro todo mês para uma emergência, pois nos enganamos vivendo num positivismo barato, reagir automaticamente sem pensar quando se fica com medo, esquecer que prevenir sempre será melhor do que remediar, sempre deixar para depois o que precisa ser feito, adiar o essencial, confundir o que é importante com o que é urgente, não entender que eventos de força maior acontecem e que somos frágeis, agir por impulso, são alguns exemplos de pontos que precisamos ajustar. Cabe a cada um como indivíduo analisar onde está sua falha, e somente nos momentos de crise “caímos na real” para nos auto analisarmos e assim ajustarmos “nossos defeitos”. Não temos controle de tudo, mas temos o domínio das nossas próprias escolhas e ações como ser individual. Olhar para si e perceber as próprias atitudes é sinal de compaixão com o próximo. Calma, toda crise passa e mesmo que ela deixe marcas, teremos tido mais uma vez a oportunidade de aprender e de fato colocar em prática o que precisamos mudar para nos tornamos melhores. (Francis Helena Cozta)

Preciso e real

É que as coisas realmente mudam. Na verdade a gente muda e as coisas tomam um outro lugar. Estar repleto de si mesmo nada tem a ver com uma certa letargia, aceitação ou comodismo (pelo menos era assim meu entendimento) e sim com inconformidade e então com puramente ação. O fazer todos os dias transforma a mente. E como transforma. É quase que como uma “decisão”. É preciso e real. Coisas sempre ditas por sei lá quem que se tornam regras sei lá porque e são automaticamente replicadas, já não têm mais sentido. Enquadrar-se em tais “obviedades” se torna uma obrigação sem razão alguma de ser. Questionar-se. É como arrancar uma venda dos olhos. Não há mais fuga e arranjar desculpas é algo que se tornou escasso. Onde a completude reside, a euforia se esvai. (Francis Helena Cozta) 

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Se Eu Não Fosse Eu

Se eu não fosse eu.
Fórmulas, dicas, conhecimento de especialistas, personalidades inspiradoras, conselhos dos experientes, frases dos sábios e toda fonte de conhecimento relevante que chega precisa ser adaptada a realidade individual. O que faz um coração vibrar é algo extremamente único e particular. Os anseios e as qualidades de um, por vezes são exclusivas, assim como os “defeitos” também. Como disse Meisner: -“Quero que você encontre em si mesmo aquele elemento que pertence a você e a mais ninguém, que é estimulante para você e para mais ninguém”.
Daria certo seguir uma cartilha de algo pronto se eu não fosse eu. O que nos torna “iguais” é o fato de sermos diferentes. Podemos até não ser especiais, mas somos únicos. (Francis Helena Cozta)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Superação

Acho que não existe melhor palavra para o desafiador 19. Eu nem vi o ano virar e ele veio arrebentando. O ano que senti medo de perder absolutamente tudo, que chorei durante 12 dias seguidos, que me angustiei, que vi minha vida exposta de uma maneira da qual nunca quis ou imaginei e só tive certeza que a popularidade não me seduz em nada, que vi a melhor oportunidade da minha vida apenas passar pelas minhas mãos. Em contrapartida eliminei 22 sacos de 100 litros de “não alegrias”, sambei em cima do carro alegórico, recebi “sins”, vi e senti a cura de perto, me resguardei, saltei de um avião e voei, conheci a personagem preferida da vida, entendi o que não quero mais, estudei, viajei, tive a mais profunda e incrível experiência “tambabense”, dei a volta por cima, me entreguei, viví a magia de me sentir “anjo” e amei o “hoje”. Coloquei em prática os livros lidos, assisti coisas que mexeram demais comigo, estudei coisas completamente novas, aprendi e me superei. O cabelo cresceu e 10 kilos se foram. Mudei o ponto de vista em vários aspectos. Tudo termina completamente diferente de como começou! Obrigada a cada um que fez parte disso tudo! Obrigada por absolutamente tudo, 2019... Não te trocaria por nenhum outro momento! Estou presente hoje!