quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Isso


Mistura do ofício com a paixão. Da imaginação com a criatividade. Do auto conhecimento com o abandonar-se. Despir-se de si mesmo, sem esquecer-se. Buscar outras vidas sem deixar de viver uma única. Entregar-se e depois retornar-se. Inventar, criar, acreditar, viver e depois guardar. Ser outro além de si mesmo. Novas sensações. Entendimento sem a inteira compreensão do que se sente. Dar um pouquinho de si a ela e levar um pouquinho  dela consigo. Impossível não contagiar-se. Doce mistura. Somos juntas e únicas ao mesmo tempo. Talvez porque uma única vida não seria o bastante. Transbordar-se. Necessitar dessa busca inventiva cada vez mais. Perceber que o caminho é mais gostoso que o resultado. Troca. Jogo. Busca. Vivência. Atuação. Se “atuar é a habilidade de viver verdadeiramente sob circunstâncias imaginárias” (Meisner), que nunca falte imaginação a esse ser para viver todas as circunstâncias concedidas. Pois é disso, por isso e para isso que vivo. Eu sou atriz. (Francis Helena Cozta)

Entendimento

Ontem um pensamento me veio a mente... "É preciso agradecer todas as noites quando chegamos em casa por estarmos a salvo. Ainda bem que não nos aconteceu um acidente no trânsito, um assalto, ou qualquer coisa ruim". Então me peguei pensando se a vida realmente seria isso... Agradecer pelo "não ruim ", e mepareceu muito raso. A vida seria baseada em "ufas", em alívios, em "ainda bem", em desvios do mal?
Tive a sensação do tal "não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal", e mais uma vez me pareceu raso. A vida seria um eterno defender-se, aliviar-se, agradecer, para então começarmos tudo outra vez? Desgastante, não? Não posso me contentar com essa possibilidade. Somos treinados a viver através do medo e da culpa, a nos enquadrarmos dentro do senso comum. Você já parou pra pensar se o que você pensa é algo que você mesmo conclui ou é algo que te fizeram acreditar que seria o correto? Por você fazer parte de um determinado grupo, comunidade ou doutrina, você precisa pensar exatamente igual a todos que fazem parte disso com você? Temos pensamentos automáticos e por vezes somos zumbis por não pararmos para nos auto analisarmos sem julgamento. Somos únicos, porque temos que nos enquadrar tanto? Isso sim é perigoso. Não é fácil parar de repetir padrões de pensamentos, mas hoje eu preferi agradecer ao bem e lembrar que ele existe, mas que cabe a mim enxergar-lo em todos os lugares. Agradecer por eu tirar as minhas conclusões, a ser dona dos meus próprios pensamentos e tentar escapar das armadilhas da massa. Hoje eu resolvi que não ia dar mais valor aos livramentos do que as benções. Resolvi pensar no bom e realmente ver esse lado. Deixamos passar imagens e sensações que poderíamos aprecia-las para tudo ser como deve ser... Leve, livre e fácil, para então talvez perceber o que é a vida. É preciso conectar-se consigo mesmo verdadeiramente e com disponibilidade para acessar sentimentos jamais vividos. Acessar a sua própria verdade. Talvez aí eu entenda o que é a vida, para depois me esquecer e tentar entender tudo outra vez. (Francis Helena Cozta)

Liberdade


Falemos de flores, de cores, de amores.
Falemos de lembranças, de pensamentos, de sonhos.
Falemos de respiração, de inspiração, de transpiração.
Falemos do que é de verdade, do que é transparente, do que é sentido.
Deixemos as máscaras, o socialmente aceito, a falsa moralidade.
Esqueçamos o confortavelmente imposto, o religiosamente colocado, o óbvio sempre dito.
Escutemos o coração, a mente, a intuição.
Olhemos para os olhos, para os sorrisos, para dentro.
Escutemos as risadas, os perdões, os agradecimentos.
Desapeguemos das falsas verdades, das regras virtuais, das reclamações externas.
Lembremos da disponibilidade, da empatia, da compreensão.
Recuperemos a essência, o sentir, o estar.
Atraiamos a presença, o divino, o inesperado.
Compartilhemos a sabedoria, a luz, a arte.
Tenhamos a paciência, o respeito, a resiliência.
Mantenhamos a delicadeza, a sensibilidade, a inteligência.
Distanciaremos o conveniente, o fútil, o padrão.
Aceitemos o novo, o diferente, o incomum.
Firmemos a tranquilidade, a coragem, a convicção.
Vivamos o profundo, o próprio, o único.
Libertemos as ideias, os pudores, as asas. (Francis Helena Cozta)