domingo, 18 de março de 2018

É Que...

Sabe mundo, é que às vezes eu acho que você não está pronto para ouvir o que tenho a dizer. Muitas vezes eu acho que você não entenderia o que eu sinto e como eu sinto. Ai ai mundo, muitas vezes eu tenho medo do que você fará comigo se eu for eu mesma, mas tenho mais medo ainda de nunca poder te dizer quem eu sou. Ah mundo, como eu gostaria de te falar tudo que se passa cá dentro. Há tanto transbordar aqui, há tanto querer, tanta paixão movida pela poesia que seria tão benéfico se isso chegasse a ti. Olha mundo, se você soubesse do meu suspirar, jamais me repreenderia. Se você soubesse dos meus ideais de vida baseados na liberdade e no amor, você jamais me julgaria. Mundo, ás vezes eu queria que você pudesse se ver através dos meus olhos. Ás vezes eu queria que você pudesse se sentir através do meu coração. Na minha mente tudo é claro, nítido, belo e possível. Como faço para que você também veja dessa forma? Muitas vezes o nó na garganta aperta e o peito fica pesado de tanto ar. Eu inspiro, inspiro, inspiro e expirar se torna difícil. Mas não se preocupe, está tudo bem, sempre está de alguma forma. É tudo bem. Quem sabe um dia eu possa abandonar os filtros impostos emocionalmente e apenas te mostrar como seria lindo o viver. Quem sabe um dia toda essa poesia aqui possa ser aplicada em ti. É que eu tenho a te dizer. (Francis Helena Cozta)

Poesia

O Sol entra pela janela.
Dentro do peito já se faz dia.
Incompletude no momento é algo que não há.
O despertar do libertar aflora e o sorriso é inevitável.
Viver faz sentido.
Desestabilidade.
Os olhos piscam leves.
As batidas do coração parecem mais os sons vindos de um instrumento de percussão.
Espontaneidade.
O todo vem de dentro para fora e se aflora doce, mas vigoroso.
Intensidade.
Perguntas agora não fariam sentido.
Por hoje não se está atrás de respostas.
Sentimento.
Ser exigente não está mais em questão. Outra exigência surge: a de viver a paixão.
Leveza.
A arte une, reconhece seres de mesma entrega, cria laços e transcende.
Poesia.
Almas entregues.
O frisson da felicidade acalma.
Simplesmente acontece.
E flui.
Está tudo bem. Ainda bem.
Está além. Amém! (Francis Helena Cozta)

Conto 1 / Eles

O relógio batia as 19. Já estavam atrasados. Como pôde um café passar tão rápido. Ainda tinham tanto a dizer, e ainda tanto a ficar em silêncio. Se encararem era tarefa difícil. Se olhos são espelhos da alma, como encarar de frente outra alma que lhes inquietavam tanto. Voltam as atenções para a realidade. Pedem a conta, vão até o caixa. Quando ela abre a bolsa, ele diz: -“Deixa que eu pago.” Ela, forte, empoderada, que faz questão de dividir, se derrete diante do pequeno ato de cavalheirismo. Então pede o motorista no aplicativo... 11 minutos. Tudo isso, que absurdo. Para eles, mais um pretexto para ficarem mais um tempinho juntos. Falam trivialidades, ou não. A certa agonia num misto de razão e emoção toma conta. Ela olha o celular para ver se o tempo no aplicativo diminui, ao mesmo tempo que tem vontade de fixar seus olhos nos dele. Ele não se importa com o motorista. Ela faz que se importa. Na verdade deveria se importar, eles estão no mundo real, mesmo que estejam numa bolha onde só eles é o que realmente importa naquele momento. Ela precisa pôr os pés no chão. Liga pro motorista, que diz estar chegando. Que pena. O carro chega. Eles saem do café, pisam na calçada, e num ato de coragem e ousadia, ela pega na mão dele. Ele, sem encara-lá, concede e segura a mão dela. Eles não se entreolham, mas sorriem. Tentam sugerir que foi o ato mais natural possível e não dizem uma palavra. Corações palpitantes. Caminham 70 metros até o carro. A maior caminhada de mãos dadas. Eles entram no carro. Já não estão mais a sós. (Francis Helena Cozta)