segunda-feira, 21 de março de 2016

Sobre Viver com Alguém.

Nascemos só, podemos ou não ter irmãos e dividir com eles, o quarto, os brinquedos, as angústias do que é crescer, as alegrias e tristezas familiares, as histórias da vida... Quanto a isso não temos muita escolha. E então, escolhemos viver com um outro alguém, seja por empatia, por não conseguir viver em casas diferentes, por querer passar noites juntos, por necessidade, por vontade de estar sempre junto, por amor, por sei lá mais o que, por querer continuar a ter com quem dividir as "coisas" da vida, mas dessa vez, não como irmãos. Escolher viver com alguém é algo tão intenso, que por vezes nos confundimos um com o outro. Dividir uma vida de fato, é de tal profundidade, que nos sentimos deslocamos com a ausência do outro. Olhar a pia do banheiro e ver apenas uma escova de dente, chega a ser um pouco perturbador. Quem sou, quem ele é, o que somos juntos, o que simplesmente somos. Dividir um lar, é mesmo dividir a vida. Ah, doce vida compartilhada. Por escolha sim. Uma escolha que vai além. Escolher esse alguém, de início natural, de meio fluente, e por fim certeiro. Tantos porquês, pra quês, poréns, e nada a compreender. Viver com alguém é ter um companheirismo diferente de qualquer outra coisa. Só sabe o que é ter uma parceria de fato, aquele que vive com alguém. (Francis Helena Cozta)

Defeito

Hoje eu acordei exausta. Hoje eu acordei feliz. Hoje eu acordei realizada. Hoje eu acordei com a certeza de que eu tenho muito pra aprender. Minha vida de atriz nada mais é do que buscar entender como seria um outro ser, com seu modo de viver, suas aflições, paixões, medos, máscaras sociais, qualidades e defeitos para poder dar vida a essa personagem. Que presente poder fazer tudo isso. Como atriz, o que posso fazer é apenas tentar sentir tudo de uma forma que talvez eu não sentiria, ou talvez sim... É viver aquela outra vida sem julgamentos ou preconceitos... Apenas vivê-la. Uma compreensão tão linda de quem essa outra pessoa é, o porque dela agir dessa forma, e muitas vezes não saber o porque também! Entregar-se, despir-se de si mesmo, sentir e viver. Não interpreto vidas, vivo outras vidas em determinados momentos com toda a consciência (que me é possível) de quem eu mesma sou. Evoluo a medida que as personagens vão chegando até mim. Percebo que até o que eu acredito ser um defeito meu, algo que eu não gosto em mim, que tento disfarçar e esconder, é o que talvez possa fazer a diferença para aquela personagem. Se eu não tivesse esse "defeito", talvez ela não chegasse até mim. Um emaranhado de técnica, experiência, vivência, emoção, intuição, entrega, consciência e estudo, muito estudo. Estudar a si mesmo e estudar o outro. O estudo é uma parte maravilhosa disso tudo, pois podem te tirar tudo... Até sua liberdade pode ser arrancada de você, mas a única coisa que ninguém pode te tirar é o conhecimento. E esse aí só vem com muito estudo e experiência. Eu? Nada sei... Eu tenho muito o que estudar. Venham vidas... Me permitam vivê-las! (Francis Helena Cozta)

Ponte

Quando se está no meio de uma tormenta, por vezes nos desesperamos a tal ponto de não nos lembramos que uma hora o mar vai se acalmar e o vento vai cessar. Isso realmente vai acontecer, você querendo ou não. Não existe a menor possibilidade do mar ficar revolto pra sempre. Depois que a tormenta passa, pensamos o quanto nos desesperamos e o quanto nos desgastamos sem fundamento. Depois que passa, realmente é fácil dizer que podíamos ter nos poupado. Mas é exatamente por isso que a tormenta passa por nós... Algo fica enraizado para que não esqueçamos de determinadas sensações. Existe algo muito maior do que imaginamos pensar. Existe uma verdade tão grande dentro de nós, tão acessível, que nos faz ter certeza de absolutamente tudo. Óbvio que durante a tormenta, essa certeza parece tão distante ou talvez pareça nem existir, mas dentro desse ser único, desse pequeno universo, dessa partícula do divino, estão todas as certezas das perguntas mais improváveis. Como é preciso ter paciência. Realmente a mais incrível das virtudes: a paciência. Ela é uma ponte entre a tormenta e a certeza. E mais uma vez você querendo ou não, é possível acessar essa ponte a qualquer momento. Por vezes tão extensa, mas de repente tão curtinha e surpreendente. Seja confiante para construir sua própria ponte, mesmo que esteja sem forças, demore o quanto for necessário, não há regra. Só não se esqueça que as certezas que você tanto procura estão em um único e exclusivo lugar... Dentro de você! (Francis Helena Cozta)

Falta Algo

Algo está fora do eixo. Que eixo? Onde está? Mas se vai pra onde? Vive-se no intervalo de doenças. Pois esse parece ser o esperar da vida. É tanta busca que já se esquece do que é procurado. Confusão. Pra quês? Um emaranhado de não se sabe o que. Porque? Revira-se tudo. Pensamentos e mais pensamentos. Frases feitas são de fato eliminadas agora. Não há fórmula. Ninguém pode desenhar soluções. Falta ajuda. Que ajuda? Não se sabe por onde começar, ou continuar. Falta algo. Onde está? (Francis Helena Cozta)

Sol e Lua

Pois quando ela era mais nova, sair de férias era algo triste. Como estar bem sem seu dia-a-dia feliz? Voltar das férias podia ser assustador. Como saber o que viria pela frente? Na verdade o que ela era, era ser feliz o tempo todo, se apegar a cada sensação vivida e acabar eternizando tudo. Ela não cresceu, mas amadureceu. Ela não mudou, ela evoluiu. Continua com a mesma intensidade de sempre. Ama viajar, tem uma fissura pelo mar que chega a ser difícil explicar. Talvez ele, o mar, seja muito parecido com quem ela seja... Sempre instável, mas no mesmo lugar no mundo. Criando novas ondas, repetindo alguns cursos, levando a novos portos, e levando aos mesmos novamente. Quanto querer pela segurança da liberdade. Uma alma liberta como o mar que sempre encontra a praia, onde é beijada pelo Sol, mas também pela Lua. Ela precisa navegar. Ela precisa atracar. Ela mistura a realidade com a fantasia, sem distinguir uma da outra. Mas qual a diferença entre elas mesmo? Para ela não há. Ela se torna parte da poesia e então não há mais distinção... Uma já é parte da outra. E por tudo isso ela pode dizer que ama apaixonadamente, o seguro e liberto, real e fantasioso, viver. (Francis Helena Cozta)