quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Focus

Não te confundas, o astigmatismo se foi. Não te disperse, já dominas a concentração. Não te distraia, os interesses são concretos. Não te abandones, descobriste tua coragem. Não te enganes, aprendeste sobre discernimento. Não te acomodes, há tão mais. Não te conformes, percebeste a amplidão. Não te desfoque, pois descobriste que o que amas é o percurso. (Francis Helena Cozta)

Recorte

A pandemia está prestes a completar um ano. Quando lemos essa frase solta nos parece tão perturbador e de fato é. Exatamente por isso me peguei pensando sobre o tempo. Sabe quando lemos livros de história e surge algo como “aqueles foram longos anos de recessão”, ou “aquela guerra durou cinco anos”, nos parece um pequeno recorte de uma história longínqua e quase fantasiosa. Quando estamos “distantes” de algo, nos parece quase inexistente. “O que são só cinco anos dentro da história da humanidade? Eram outros tempos e as pessoas deviam encarar o tempo de um jeito diferente.” Quase desumanizamos os que vieram antes de nós e passaram pelos mais absurdos desafios. Decerto, nossa ansiedade cada vez mais latente nos torna extremamente imediatistas. Sei que isso se deve a avançada tecnologia de hoje que nos dá respostas quase que instantaneamente. Não paramos mais para apenas esperar, só esperar, se o que precisa ser resolvido não está em nossas mãos diretamente. Essa tecnologia que encurtou distâncias foi a mesma que ajudou a proliferar um vírus no mundo inteiro. E na nossa ânsia pelo imediatismo - pela vontade um tanto imatura em fazer exatamente o que fazíamos antes do tal vírus - queremos que ele desapareça tão rapidamente quanto se espalhou. Nada na história voltou a ser como antes uma vez modificado. Os sobreviventes das crises históricas foram aos poucos inventando novas formas de viver. Somos apenas um pequeno recorte de mais um desafio da humanidade, com a sorte de estamos ligados ao mundo através da tecnologia e o azar de estarmos presos dentro do nosso próprio egocentrismo imediatista. (Francis Helena Cozta)

Estar

Há três anos eu cortava o cabelo no menor comprimento em que já tive. Foi a primeira vez com a nuca de fora sem fazer rabo de cavalo. Assim que cortei tive a certeza de que nunca mais teria o cabelo médio ou longo (a não ser para uma personagem). Balela. Menos de três meses depois eu não via a hora do cabelo crescer. Já não me reconhecia daquele jeito, sendo que cortei justamente porque não estava me reconhecendo do jeito que eu era antes do corte. Então quem eu era? Foi nesse processo (não do cabelo, mas da busca por quem se é) que percebi que não “sou” algo, mas que “estou” algo, e que tudo está em constante mutação. Cortes e rupturas são necessários não para que se permaneça de uma determinada nova forma, mas para que se amplie a possibilidade de tantas outras formas nunca antes imaginadas, pois o que predominava era a procura pelo ser, permanecer, firmar, consolidar. “Vou mudar para então permanecer ali.” O objetivo é permanecer e o caminho é a mudança? Que busca vã com resultados nunca satisfatórios, pois o novo também se torna velho. Permitir a mudança e depois não compactuar com a conformidade da permanência, é expandir a mente, o intelecto, o conhecimento, as possibilidades (inclusive de novas mudanças), pois como já disse Einstein, o que não se sabe, não existe. (Francis Helena Cozta)

Adversidade

Utilizar de maneira orgânica, com exatidão, as armas intelectuais adquiriras através do estudo certeiro no momento de extrema adversidade, talvez tenha se tornado um conceito de felicidade. Outro talvez me vem à mente: só o embasamento nos traz o equilíbrio necessário quando o mesmo é posto à prova. Decerto o conhecimento só está digerido de fato quando o aplicamos no momento adverso sem pestanejar ou até mesmo racionalizar tanto. Sartre dizia que não importa o que te fazem, mas sim o que você faz com o que te fazem, e sinceramente, só entendemos esse pensamento quando somos “obrigados” a colocá-lo em prática. Concluo a reflexão com uma frase de um dos melhores livros lidos na vida: Em Busca de Sentido do Viktor Frankl. “Quando não podemos mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos. Tudo pode ser tomado do homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas – a escolha da atitude pessoal diante de um conjunto de circunstâncias – para decidir seu próprio caminho”. Finalizo lembrando que a proteção divina é extremamente poderosa e a gratidão por ela é gigante, mas esse assunto merece um pensamento a parte. (Francis Helena Cozta)