quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Estar

Há três anos eu cortava o cabelo no menor comprimento em que já tive. Foi a primeira vez com a nuca de fora sem fazer rabo de cavalo. Assim que cortei tive a certeza de que nunca mais teria o cabelo médio ou longo (a não ser para uma personagem). Balela. Menos de três meses depois eu não via a hora do cabelo crescer. Já não me reconhecia daquele jeito, sendo que cortei justamente porque não estava me reconhecendo do jeito que eu era antes do corte. Então quem eu era? Foi nesse processo (não do cabelo, mas da busca por quem se é) que percebi que não “sou” algo, mas que “estou” algo, e que tudo está em constante mutação. Cortes e rupturas são necessários não para que se permaneça de uma determinada nova forma, mas para que se amplie a possibilidade de tantas outras formas nunca antes imaginadas, pois o que predominava era a procura pelo ser, permanecer, firmar, consolidar. “Vou mudar para então permanecer ali.” O objetivo é permanecer e o caminho é a mudança? Que busca vã com resultados nunca satisfatórios, pois o novo também se torna velho. Permitir a mudança e depois não compactuar com a conformidade da permanência, é expandir a mente, o intelecto, o conhecimento, as possibilidades (inclusive de novas mudanças), pois como já disse Einstein, o que não se sabe, não existe. (Francis Helena Cozta)

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