quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Completamente solitário

Não existe nada mais gostoso do que se sentir seguro em cena.

Nada se compara a sensação de olhar no olho do parceiro de cena e mergulhar nele sem medo, porque aqui dentro eu sei o que eu estou fazendo, ou seja, eu tenho total controle sobre o que sai da minha boca, sobre os movimentos do meu corpo e o que vem a seguir na cena.

Essa sensação só é alcançada quando temos total domínio da fala, da música, da coreografia.

Para ter esse domínio, existe um trabalho pregresso que é COMPLETAMENTE SOLITÁRIO.

E para mim, ESSE é o verdadeiro trabalho do artista.

É preciso mto além de “decorar” o texto, as músicas, as coreografias… É preciso se apropriar delas. Para isso é preciso horas de solidão e de auto confronto.

Ler o texto em voz alta até ele sair sem eu precisar pensar nele. Lavar a louça falando o texto, tomar banho falando o texto, fazer qualquer coisa rotineira falando o texto, até ele ser “tão meu” que eu já nem penso mais nele. 

E aí, por não pensar nele, eu consigo olhar pro meu colega de cena e me entregar. 

E não há nada que se compare a essa sensação. 

Falar, falar, falar o texto em voz alta. Escutar, escutar, escutar, cantar, cantar e cantar a música até não aguentar mais. Assistir o vídeo da coreografia e errar, errar, errar até acertar. 

O trabalho do artista é anônimo, repetitivo, solitário e silencioso. E só não é invisível porque podemos expor todo esse esforço de maneira “tão natural” no palco. 

(Francis Helena Cozta) 

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