domingo, 30 de março de 2025

Oradora

Era fevereiro de 2023 e eu me arrumava como quem vai pra escola como se fosse a primeira vez.

Quase 20 anos de formada.

O que eu tô fazendo aqui? 


O Gustavo emendou a facul com a pós. 

A Júlia tá fazendo várias pós ao mesmo tempo. 

A Bruna trabalha numa startup.

Uau, meus colegas de sala são o máximo.


Quase 20 anos de formada.

O que eu tô fazendo aqui? 


Essa era a pergunta que eu me fazia.

E ela sempre vinha, após os professores em suas primeiras aulas, pedirem para cada um se apresentar. 

Confesso que em cada auto-apresentação, eu falei algo diferente. 

Minha resposta ia mudando conforme o nosso curso avançava. Vinham algumas certezas e muitas dúvidas. 


Quase 20 anos de formada.

O que eu tô fazendo aqui? 


Olha os meus amigos. 

Eles estão no mercado, tendo experiência. 

E eu? Eu tenho experiência de vida. 


Quando entramos no mundo acadêmico sendo jovens, amadurecemos. 

E quando voltamos a esse mundo, agora maduros, rejuvenescemos. 


Talvez a pós-graduação seja exatamente essa mistura. 

Pra gente foi assim.


Decidir voltar a estudar depois de tanto tempo, emendar uma formação na outra, fazer um curso completamente diferente da graduação… Porque na nossa pós, passaram jornalistas, mas também publicitários, administradores, cozinheiros e atores. 


Alem das nossas diferentes conexões a cada nova formação da turma, uns indo e outros vindo.


Marli…

Luís Mauro

Fernanda

Wesley

Krishma

Mirian

Cido

Nuno

Edson

Ellen

José Antônio 

E… Júlio 


Obrigada por entenderem essa mistura de gente e nos conduzirem tão bem. 

Somos gratos pela incrível troca que tivemos ao longo do curso. 


Foi uma uma honra aprender com vocês e estar numa instituição de ensino de tamanha relevância como a Casper. 


Mestres-professores e colegas-amigos… 

A vida nada mais é do que a arte do encontro.

E valeu demais termos nos encontrado e hoje findarmos esse ciclo juntos.


Mesmo que talvez, eu ainda me questione….


Quase 20 anos de formada.

O que eu tô fazendo aqui? 

(Francis Helena Cozta) 

Motivo

Fiz de novo… Escrevi para ti.

A nossa história não pode ser contada, muito menos postada na internet, mas isso não significa que ela não seja real.

É real porque pulsa em cada canto do meu corpo concretamente numa palpável palpitação. 


O que você é meu? 

Talvez ainda não tenham inventado tal definição, mas para mim você é o meu motivo. 


Você é o motivo de eu parecer boba quando leio uma mensagem sua, escuto nossas músicas, vejo nossas fotos e assisto nossos vídeos. 

Você é o atual motivo da minha constante inquietação interna, da minha paixão, do meu tesão.

Você é o motivo de eu querer que o tempo passe para que a gente possa se sentir de novo e eu possa falar seu nome bem baixinho no seu ouvido e dizer “sou tua”. 


Eu tento não alimentar tanto isso dentro de mim, mas seus olhos de ressaca me vêm à mente e eu amoleço. Lembro das suas mãos em mim e acabo entregue. 


Que culpa eu tenho se você tem a voz grave mais linda, fala o “R”, o “S” e o “N” de uma jeito tão melodioso, e ainda me escreve isolando o vocativo? 

Que culpa eu tenho se você tem a mania fofa de passar a língua no seu lábio inferior e dar uma leve mordidinha enquanto está pensando em algo?

Que culpa eu tenho de você beijar devagar? 


Eu amo a frase do Bukowski que diz que a poesia é o que acontece quando nada mais pode.

Eu acho que de alguma forma os poetas estão perdoados, e você é o motivo da minha poesia.

Você é o motivo do meu amor.

(Francis Helena Cozta)

sexta-feira, 21 de março de 2025

Bagagem

Estou levando na mala uma mistura de novos sabores, cores e amores.

Tem um monte de sotaques também, e nenhum deles é igual ao meu. 

Tem novas vozes, palavras e músicas. 

Tem frisson, frio na barriga e tesão. 

Tem quartos de hotel, sala de ensaio, palco e câmera.

A mala está mais pesada, a alma mais leve e ambas bagunçadas (ainda bem).

Em um mês, três destinos e linguagens de trabalhos completamente diferentes entre si, e a mesma eu (ou não mais). 

Um mês alternando entre a extrema solitude e a agitação da criação em grupo.

Um mês com olhos de criança turista curiosa. 

Na minha bagagem carrego a confirmação das escolhas certas, a celebração da coragem e a surpresa do rejuvenescimento.

Já estou sentindo falta de mim, dentro das experiências recém vividas, mas como bem já disse o poeta… A saudade é o azar de quem teve muita sorte. 

Estou viva!

(Francis Helena Cozta)


segunda-feira, 17 de março de 2025

Olhos de Ressaca

Em Dom Casmurro, Machado de Assis (através de Bentinho) descreve Capitu com “olhos de ressaca”. Essa expressão se refere aos olhos que arrastam tudo para dentro si como uma ressaca do mar. Reles amadora que sou, preciso pedir permissão a ti, Machado, pois me apoderei de sua expressão, mas fiz minha devida adaptação. Machado, eu sou apaixonada por certos olhos que passam boa parte do tempo semi-cerrados. A sensação que eu tenho é que esses olhos nunca se abrem por completo, e talvez seja isso que me instigue tanto. São olhos doces com uma pitada de malícia. Quando esses olhos entreabertos se cruzam com os meus meus, me sinto trêmula e salva. Pareço uma menina e me esqueço um pouco de quem sou. Ou na verdade, é aí, que eu me lembro de quem sou. Apenas me desvio desses olhos -fechando os meus- quando ouço de pertinho a voz grave mais deliciosa que já ouvi, ou quando me perco em sua boca. Machado, te entendo tão bem, pois também tenho um amor com olhos de ressaca. Não a mesma ressaca do mar da sua Capitu. O meu amor tem olhos de ressaca mesmo… Daquelas do dia seguinte, com ar de sono, que deixa a gente mole, leve, entregue, com sorriso bobo e forte inquietação interna. Desde que esses olhos me chegaram, a leve ressaca presente neles, de alguma forma foi transferida a mim também. Me tornei boba, febril, com as pernas instáveis e sorriso de canto boca o tempo todo. Machado, ao mirar esses olhos, quem se sente embriagada sou eu. (Francis Helena Cozta) 

terça-feira, 11 de março de 2025

Pra Ti

Lá, a conjugação dos verbos na segunda pessoa é utilizada com perfeição.

O “n" tem mais melodia do que o meu.

Tem banhos de "para ti" e de "s" com som de "x".

Tem "voz doce", que eu "já me acostumei".

Também tem banhos de chuva.

Lá, a chuva não dá frio e chove todo dia.

Tem unha de caranguejo e sorvete de bacuri.

Tem o Theatro da Paz. E tem a gente!

Hoje tô muito "chupica" e o meu dia "parece cocaína, mas é só tristeza".

É que a nossa mistura da maniçoba com o pastel de feira deu muito certo. PA e SP juntos cantando Brasília. Égua, meu!

Não sei "quem inventou o amor", mas "quando penso em você eu tenho febre".

Voltei a ter 16 anos.

Nada se compara a sensação de estar viva novamente, só que

"nesse ano o verão acabou cedo demais", mas "teremos coisas lindas pra contar e até lá vamos viver", porque juntos descobrimos "como é que se diz eu te amo".

E eu amo você.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

E ela vai…

Na tentativa de pegar no sono, o mantra “ninguém te deve nada, ninguém te deve nada, ninguém te deve nada”, se deu até encontrar um leve aconchego na solidão. Existe um árduo trabalho, mas extremamente recompensador, na batalha da auto percepção de si mesmo e em seus valores mais intrínsecos, mesmo não reconhecidos por alguém que tenha lhe dado a vida. Ok… Algumas coisas não devem ser ditas, mas é muito custoso para o poeta “não sangrar em tanques de tubarões”. A escrita organiza a mente, expurga o ódio, tenta trazer equilíbrio. Na turbulência de estar num pesadelo, o ofício (que de alguma forma sempre se faz presente), aos poucos vai fazendo lembrar da própria realidade e de quem se é verdadeiramente aqui, no palpável. E a certeza de que é aqui que se deve estar. E ela vai… (Francis Helena Cozta)

terça-feira, 6 de agosto de 2024

O Encontro

O desafio era escrever uma matéria jornalística sobre turismo cinematográfico, baseada na experiência do meu amigo Pedro Godoy, Mas a artista/jornalista que vos fala escreveu uma crônica! Segue aqui 👇🏻


O ENCONTRO 

crônica por Francis Helena Cozta


Era abril de 2023 e Pedro pegou o metrô mais uma vez.  

Mas nesse dia, não era rumo à estação Patriarca da linha vermelha do metrô de São Paulo.  


O metrô, que faz parte da rotina de Pedro, naquele momento, passava longe disso. 

Estar ali, a caminho do local de trabalho de Peter, era um sonho antigo. 


Pedro conheceu Peter em 2006 e a identificação foi imediata.  

Ambos sempre se sentiram "um cara comum". E Pedro, por causa de Peter, aceitou que era ok ser comum, e que, na verdade, existia até uma magia nisso.  

Os gostos também eram os mesmos: a paixão pela fotografia e o interesse pelo jornalismo. 


Peter tinha um segredo que Pedro sempre soube e que o admirava por isso.  

Não era nada fácil ser Peter, e Pedro também sabia disso. Talvez, ser Pedro, também tivesse seus desafios. 


Para ir ao encontro do local de trabalho de Peter, Pedro teve de enfrentar um de seus maiores medos, que, claramente, não era o de andar de metrô, mas sim, voar de avião. 


Mas Pedro havia aprendido com Peter a coragem que precisava, mesmo que fosse preciso "se esconder", pois sabia que não importava quem estava por trás da máscara, mas sim, o que se faz quando se está com ela. 


Pedro levou sua câmera analógica para registrar o encontro. Peter teria feito o mesmo.  O local de trabalho de Peter, fundado em 1975, havia mudado de endereço, mas isso não importava para Pedro. 


Ele poderia ter passado primeiro na St. Patric's Old Cathedral, no Ghostbuster Headquarters ou no Rockfeller Center, mas ficaria para depois. 


Pedro estava com seu pai, que era pessoa fundamental na conexão dele com Peter. Seu pai também o havia apresentado a mais uma paixão (talvez a maior de todas), o cinema. 


Pedro finalmente adentrou o local, pediu uma pizza de pepperoni, que estava longe de ser a mais gostosa que já comeu na vida. Mas isso também não importava. 


Pedro estava lá, com o seu próprio tio Ben, vulgo seu pai, com quem dividia o aprendizado de saber que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. 

Pedro finalmente estava na Joe's Pizza. 


E naquele encontro consigo mesmo, não registrou a fachada do lugar com sua câmera, pois ali, fez a promessa de realizar tal feito quando se mudasse, então, para viver em Nova York.